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Lembra de "Anubis", aquele anônimo que escreveu para o site há um tempo atrás? O tal "anônimo" era Cléber Paes, um dos co-criadores do projeto Cartaz Branco. 

 

Cléber é estudante de Design, desenhista e também gosta de  escrever. Gosta muito de ler HQ's e livros de fantasia e história (principalmente de guerras). Já teve um site de textos que encerrou suas atividades em 2012, e segue no seu sonho de ser um escritor e desenhista profissional. 

 

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Leia abaixo o texto do Cléber:

Cléber Paes

Museu

     

   Estou mais uma vez em um lugar que não existe, não fisicamente, um museu, mas não um museu comum. Esse museu tem todas as obras que eu considero importantes pra mim, obras que falam por mim, choram ou sorriem por mim. Não sou um profundo conhecedor da arte, sei algumas coisas, até por que apenas o próprio artista realmente conhece o significado das suas obras.
 

Ando em direção a parte mais fria do museu, um lugar pequeno, reservado pra uma única obra, um lugar escuro e sem muita circulação. É uma sala vazia, com apenas uma luz que não sai de lâmpada alguma, ela apenas existe, esse raio de luz mostra no fundo da sala um solitário quadro, quase tão escuro quanto o próprio aposento, um Caravaggio. 
 

"David com a cabeça de Golias" esse é o nome da obra. Quanto mais me aproximo dela, mais fria a sala fica e não é um frio que dói na pele, é aquele frio do medo, que nenhuma fogueira é capaz de esquentar, aquele frio que faz você recuar alguns passos e olhar pra baixo, mas não tenho medo do quadro, tenho medo do que ele quer me falar. 

Nessa obra Caravaggio pintou ele mesmo como Golias sendo decapitado por David, sinto-me igual toda vez que escrevo um texto, punindo-me com a minha própria arte. 
 

"A culpa é sua" o quadro me diz, é o que ele sempre diz
 

é o que eu digo 
 

é o que a minha arte diz
 

Olho então para David, ele não esta feliz, apesar de ter derrotado Golias. David é a segunda parte de Caravaggio, é a aquela voz dentro da cabeça que diz “a culpa é sua", e essa voz é tão alta que você não consegue escutar mais ninguém, parece que você esta sozinho, que ninguém se importa ou entende você, e chega uma hora quem nem você entende mais seus pensamentos.
 

Meus olhos não conseguem fugir do quadro, 
 

eu não consigo fugir de mim, dos meus erros. 
 

Talvez seja o frio que me segura aqui, o medo, o medo de admitir que errei, o medo de ver o que eu fiz, o que eu sou. 
 

Mas o meu carrasco tem a chave dessa prisão
 

No quadro, mas especificamente na espada de David, está escrito " H-AS OS", essa é a sigla da frase em latim “Humilitas occidit superbiam", significa “A humildade supera o orgulho"
 

o orgulho é tão perigoso quanto qualquer espada, ele é uma venda, esconde os seus erros, faz com que você os cometa várias e várias vezes e não te deixa olhar pra trás. 
 

A luz do cômodo some, junto com o frio, não enxergo mais o quadro, não existe mais culpa, nem medo, existem erros, mas agora os conheço e sou eu quem tem a espada.


                                                                 
                                                                                                                                                                                                                                                                                                                             (PAES. C, Museu, 2013)

 



 

Leia também o outro texto do Cléber

"Na capital da minha alma"
 

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Toda Quarta-feira seu texto no Cartaz Branco

Revisado por: Ayla Viana

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