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Literatura:

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Êrica Blanc
Futura jornalista 

 

Estudante de Jornalismo, morando em Porto Velho, Rondônia, e dona do blog Ré Menor (http://www.remenor.com.br/) tem aptidão para a comunicação só por exercer essas duas funções. Porém, ela escreve contos ótimos também, acrecentando mais pontos.

 

Ela se descreve bem melhor:

"Cresci ao redor de livros, tanto os das coleções dos meus pais, como os da minha própria coleção. Escrever veio depois, bem depois, quando eu já não conseguia mais conversar com as pessoas, encontrei o conforto nas palavras. Foram elas que me levaram para o Jornalismo, afinal. Só consigo escrever com música, por que nada fica bom sem uma trilha sonora perfeita. Sou uma blogueira meia boca, que um dia pretende ser uma grande jornalista, que seja reconhecida pelo seu trabalho e por nada além disso. Fora livros, música e escrita, sou apaixonada por filmes, seriados e redes sociais."

 

Com vocês, dois textos da Êrica:

E quando a distância existe, o que acontece?

 

       O sol tinha se posto. Porém o céu ainda estava em tom alaranjado, limpo, não se via uma nuvem por ali. A lua cheia já aparecia, mas não brilhava ainda. Um casal andava de mãos dadas em um gramado verde, por entre as árvores. Era o primeiro encontro deles. Era a primeira vez que eles se viam pessoalmente. E depois de passar muito tempo trocando abraços e beijos, eles andavam sem rumo, apenas aproveitando a presença um do outro. Entretanto, ela parecia muito inquieta. Ele parou de andar e ela subitamente olhou pra ele. 

 

— Que aconteceu? — Perguntou ele. 

— Nada, por que?

— Fala… — Ela parou na frente dele e, depois de minutos de hesitação, depois de respirar fundo e soltar o ar umas quatro vezes seguidas, ela começou a falar tudo que vinha guardando a meses. 

 

—  Sempre fui muito confiante. Sempre me afirmei dona do meu nariz e do meu coração. Conseguia gostar e desgostar de quem eu bem quisesse, na hora que eu bem entendesse e o mundo nunca me fez diferença. Nunca sentia ciúmes, nem ao menos gostava de flores ou músicas mais “melosas”. Eu cheguei até, a dizer que jamais ia me casar, ou ter filhos. Eu colocava minha carreira acima de qualquer sentimento. Mas sabe, um belo dia você resolveu brincar com a minha cara. Aparecer e dizer que eu estava errada. Dizer não. Mostrar. Você veio com esse sorrisinho aí, esse que me arrepia até a alma e desestruturou toda a armadura que eu construí durante todos esses anos. — Ele ria. Ainda estavam de mãos dadas, encarando um ao outro. — Ah, você acha engraçado, né? Para de rir, moço. Não é legal sentir seu coração batendo enlouquecido cada vez que seu celular recebe uma notificação, correr pra ele e ver que não foi você que falou comigo. Não é legal ficar de bico por que simplesmente estou morrendo de ciúmes de você com suas “amiguinhas”. Do nada, me pareceu não tão ruim casar, por que eu iria te ter perto todas as noites, poderia te ver sorrir pra mim. Você simplesmente me vem na cabeça quando quero, desesperadamente, me dedicar ao meu trabalho. E as músicas? Ah, meu bem… Já tenho uma lista delas dedicadas a você. E, entre suspiros, percebi finalmente, que eu era dona do meu nariz e do meu coração, por falta da pessoa certa para desestabilizar tudo. - Ele ainda não tinha parado de sorrir, e seus polegares acariciavam o rosto vermelho dela, enquanto algumas lágrimas rolavam pelas bochechas da menina. 

 

—  Eu viajei novecentos quilômetros pra te ver, que tipo de maluca eu sou? E eu nem consigo te detestar por ter feito tudo isso comigo. Isso só aumenta, tudo o que eu não deveria sentir.

 

  Por fim, ele a beijou. Por que não conseguia responder aquilo de outra forma. Sabia que iriam passar mais tempo longe do que perto. Mas sabia, também, que ela tinha viajado novecentos quilômetros para vê-lo e aquilo tinha que ser levado em consideração. As coisas iriam acontecer como tivessem que acontecer. O sentimento era reciproco. E isso era suficiente. 

 

Desencontro

 

Sabe aquela coisa de amor? Isso. Essa mesmo. Essa coisa que até Deus anda duvidando ultimamente. Aquela coisa de casais se encontrando depois de anos e sentindo o mesmo amor vindo de suas entranhas que, de repente, parecem muito inquietas. Aquela pessoa que você jura com todas as letras que já esqueceu a muito tempo, mas só de pensar em seu sorriso, seus olhos ganham brilho e seu estomago embrulha. E só de lembrar um pouquinho daquela conversa, de vocês, um sorrisinho aparece no canto dos seus lábios, não importa o quanto você lute para tira-lo dali. Pois é, esse amor mesmo passou pela vida de dois adolescentes uns anos atrás. Eram imaturos demais. Tinham muito amor, mas pouco compreendiam as limitações um do outro. Como casal, um potencial incrível, desperdiçado por coisas que não deveriam ter sido ditas ou feitas. Mas aí, Deus, o cosmos, o universo, sei lá, chame do que quiser, resolveu dar uma chance para um reencontro. Longe de tudo que os afastou. 

 

Toronto, Canadá. 

 

Era o quarto copo de café que ela tomava, não dormir noite passada não tinha sido uma boa opção. Ao redor dos seus olhos marcas arroxeadas começavam a aparecer, graças a sua relutância em descansar e vontade de conhecer Toronto o mais rápido possível para começar a digitar o livro no qual estava idealizando no momento, tinha recebido um prazo da editora, então quanto antes, melhor. Caminhava com passos firmes pelo assoalho de madeira da livraria, que as vezes soltava um rangido de madeira cansada. Era um lugar amplo e bem completo, dois pisos, todo de madeira. Desde pequena sempre gostava de ficar em livrarias, o pequeno som de livros voltando para prateleira, várias pessoas lendo sinopses, o leve barulho de páginas sendo folheadas e o cheiro de livro novo que pairava no ar. Ela percorria os olhos pelas prateleiras, não procurava nada em especial, estava absorta em pensamentos, devaneios. Até que sentiu seu corpo se chocar com algo e seu copo de café quente virar sobre a roupa de um desconhecido. Ouviu-o sussurrar algo, que fez com que soubesse que o rapaz, pouco tempo mais velho que ela, era também brasileiro: —Filha da puta. 

 

—Desculpa, estava distraída. — Sussurrou sem graça, não era a primeira vez que ela conseguia passar vergonha, mas seu rosto ainda ruborizava. Seus olhos mudaram de foco, da camisa, subiram de encontro aos olhos do garoto e, rapidamente, seu rosto ruborizou mais, apesar do garoto não ter notado. 

 

—Mabe. 

 

— Bernardo. — Ambos sorriram de forma débil, ela fechou os olhos por um momento, deixando a mente ser invadida por lembranças de um passado não tão antigo. Ao abrir os olhos, percebeu então que estavam no meio da livraria, o copo de café ainda na sua mão, e o conteúdo que antes estava dentro do copo, agora escorria pela palma da mão da garota e formava uma pequena poça no assoalho de madeira escura. Fora ao fato de que, quando ela abriu os olhos, também notou que ele ainda a encarava. Ela sorriu mais uma vez, bem envergonhada dessa vez. 

 

— Pokemon Shyni desastrado, não? — Ah aquele apelido... Ele a chamava assim a tantos anos atrás. Eles riram. De volta toda aquela frescura de ficar rindo sem parar. — Como faço para reparar o dano que lhe causei?

 

— Perguntou, apontando para a camisa manchada. 

 

— Um café, agora mesmo. — Ele piscou. — E, é claro, uma lavanderia. — Ela riu. 

— Fechado. 

 

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