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Revisado por: Ayla Viana

Mechanical Bull (2013)
Kings of Leon 
 
Por Mateus Picanço
 
 

O ano de 2013 já me trouxe muitas surpresas, e essa maravilhosa peça de arte que o Kings of Leon lançara esse ano foi uma daquelas de abrir um sorriso. Impressionado, resolvi escrever esta resenha.

Nunca gostei de Kings of Leon. Simplesmente não concordava com aqueles riffs descontruídos e letras que, para mim, não tinham peso lírico algum. Escutei, em algum momento da minha vida, aos discos deles enquanto procurava por bandas novas para ouvir e não simpatizei com o estilo que eles pregavam.

 

Exercendo o meu ofício cartaziano, resolvi sentar para ouvir este disco, o Mechanical Bull, o mais novo da banda, lançado ainda em 2013.

 

Chocado.

O melhor adjetivo que encontrei para o primeiro momento.

Extasiado.

O melhor que encontrei para o segundo.

 

De um álbum do qual eu realmente não esperava nada, encontrei aquele que se tornou uma das playlists mais tocadas do meu Itunes.

 

A primeira canção já é um convite ao clima nostálgico que toma conta da maior parte do disco. Um riff de guitarra melodioso chama atenção logo de cara. A bateria e o uso prudente de um teclado elétrico e baixo presente completa a música com maestria, sem deixar nem faltar.

 

A voz mais trabalhada do vocalista Anthony Caleb com aquela rouquidão característica que tanto carregou os álbuns da banda é notável. Aqui, percebe-se a hipervalorização da melodia e do conteúdo lírico. A música é cantada com emoção, com o sentir de cada ferida descrita na letra sendo “tocantemente” retratado. É quase uma súplica. Supersoaker abre o álbum com a atitude necessária para efetuar uma digressão no conteúdo dos Kings of Leon.

 

A próxima faixa, Rock City, consolida o clima nostálgico e confidencial do álbum. Um groove quase blues-oitentista, com recursos de guitarra simples e bem crus, com destaque para o uso de uma distorção bem aveludada, típica dos valvulados da época.

 

A terceira faixa do disco acredito que seja novamente um flerte com o punk rock oitentista. Um tom um pouco mais agressivo, ao estilo oldschool com um riff de guitarra presente e, com relativa constância, contínuo. Interessante observar uma banda conhecida por usar de riffs descontruídos e não trabalhar tanto com solos de guitarra fazer justamente o contrário nessa faixa. Um belo destaque para o solo de guitarra efervescente de Cameron Matthew.

 

Chegando à quarta faixa a digressão se estende ao emocional. Beautiful War é uma belíssima canção, com um arranjo delicado e versos selecionados. Guitarras com delays e reverbs sutis, coros de fundo, e continuidade rítmica, tudo conflui em uma atmosfera melancólica, quase uma abordagem 'U2ana' do fazer musical.

 

Outro fator interessante a se considerar nesse novo disco dos Kings of Leon é a intensa presença de elementos da música country e folk nas canções, tanto nos aspectos líricos quanto nas texturas dos arranjos. Um linguajar e cantar mais soltos torna bem evidente o country presente em faixas como Comeback Story, Onthe Chin e, principalmente, em Family Tree.

 

De uma forma graciosa, o Kings of Leon foi velho sem ser clichê, oldschool sem ser ultrapassado, diferente sem ser hipster. Enquanto muitas bandas adotam recursos eletrônicos e adentram um mundo novo de experimentações digitais, os Kings of Leon retornaram às origens, fazendo um elogio à melhor fase do rock, com uma estratégia musical simplista, beirando o minimalismo. De uma forma geral, o disco não falha em sua proposta.

 

O que pode acontecer a um ouvinte atento é uma certa repetição das melodias. O disco também fere uma linearidade: músicas agitadas em meio à baladas melancólicas, o que compromete uma certa sustentação ao seu aspecto geral. Um choque em relação ao trabalho antigo da banda, o disco também pode se tornar uma espécie de susto para os fãs mais antigos.

 

Ao meu olhar, o disco foi um bem necessário para a banda reencontrar sua musicalidade, e à música atual em si por descarregar um pouca a tensão trazida pela “inovação musical’’. Mechanical Bull é uma ótima forma de relembrar as canções que tanto marcaram o rock, que agora é reinventado como novas caras e novas vozes.

 

 

Escute o disco completo:

 

Resenha:

Mateus Picanço é resenhista do Cartaz Branco. Tem 17 anos e pretende cursar Engenharia Acústica. É entusiasta da poesia e incipiente cronista. Além de participar de uma banda.

 

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