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Ghost Stories (2014) - Coldplay 
Parlophone Records
 
Por Mateus Picanço
 

 

Três anos após o disco que considero o melhor do Coldplay em sua essência, a banda nos traz sua mais nova empreitada musical, cheia de experimentações e novos sons. Para os fãs mais ávidos da banda, não foi um choque tão grande o Coldplay mudar um pouco sua característica musical. 

Os albuns em geral não são parecidos um com o outro, com exceção dos dois primeiros, Parachutes e A Rush of Blood to the Head. Mas algo em todos os albuns esteve presente: a lírica suave, quase inocente das letras de Chris Martin e os verdadeiros hinos encatadores de multidões. Até hoje me arrepio ao lembrar do dia 30 de Dezembro de 2012, quando fui ao show de fim de ano da banda em New York. Foi muito emocionante cantar em unísono o coro de Viva La Vida e Charlie Brown com aquelas pulseirinhas que brilhavam junto ao bumbo da bateria.

 

Eu, confesso, esperava algo desse nível com Ghost Stories. Um tanto frustrado, eu escrevo essa resenha sobre o disco que, em minha opinião, é o pior da carreira do Coldplay.

 

Não sei bem o que houve com a banda nesse tempo de produção do disco, mas nunca a situação pessoal dos músicas esteve tão presente quanto nesse disco. Ghost Stories é o disco de "divórcio" do Coldplay. Ele foi gravado e produzido durante o período de fim do casamento de Chris Martin e isso ficou bem claro nas letras do compositor. A atmosfera do disco em si é bem melancólica e uma tentativa de buscar esperança num período conturbado da vida. A questão do envolvimento pessoal e emocional com o disco é algo muitorelevante no disco, afetando até mesmo a performance dos músicos. É possível sentir a dor no coração de Chris Martin ao ouvir Oceans. Esse é o ponto mais forte do disco, em minha opinião.

 

 

Algo que fiquei muito triste ao ouvir foi como o valor lírico das canções caiu em comparação aos albuns anteriores. O Coldplay emplacou singles que fizeram muito sucesso com esse album, como Magic. O que noto, porém, foi uma preocupação em se manter "nas paradas", algo com o que o Coldplay nunca precisou se preocupar. A maioria das cançõe possui letras pouco relevantes, rimas bem fracas e quase forçadas. O Coldplay atingiu, acredito, o seu auge da breguice musical.

 

 

Always in my Head abre o album, criando a atmosfera que vai continuar o resto do disco, a melancolia da separação. A letra é tão clara que até mesmo quem não sabe da vida pessoal do compositor principal da banda, Chris Martin, pode perceber. As guitarras com delays característicos da banda estão presentes, orquestrando perfeitamente uma balada melancólica. Até então eu estava um tanto feliz ao ouvir o album. Afinal, Always in my Head é uma música estupidamente bonita.

 

Quando Magic tocou, mudei de ideia. Magic é um exemplo de música que eu penso em NÃO fazer. Nunca tinha escutado uma canção tão fraca liricamente e tão brega em toda a discografia do Coldplay. Apenas não suportei a canção. Um refrão previsível e repetitivo configura essa música como algo bem voltado ao apelo popular em geral. Uma canção fácil de ser digerida, pouco odiável. Bom, eu odiei.

 

Ink segue o caminho de Magic e continua a estragar o disco. Um riff de violão bem circular para acompanharuma melodia repetitiva. O Coldplay experimentou bastante efeitos de reverberação e vocalização nessa música. Ainda assim, não me comoveu.

 

True Love começa com uma melodia gostosa de ouvir. Não achei nem um pouco necessária a introdução estilo "David Guetta", porém. Um piano único e forte poderia carregar a música, que por si só é bem melancólica e melodicamente carregada. A música, com todos os esforços da banda, não ficou vazia.

 

Midnight, o primeiro single, a minha esperança no album, trouxe um pouco de alívio. A música toda tem bastante presença de experimentações musicais, tanto na métrica da letra quanto na utilização de um Vocoder para criar um coro ambiente e quase alienígina, porém muito abrangente para a canção, algo que me lembrou alguns trabalhos da banda Bon Iver. Considero Midnight uma das melhores musicas do disco, divergindo do aspecto geral do Ghost Stories.

 

Quase todo disco do Coldplay possui uma canção acústica, com foco na voz e no violão de Chris Martin. Oceans, que dá sequência à Midnight, nos traz um tom de nostalgia característico das antigas canções acústicas do Coldplay. A música é maravilhosa e muito comovente e, para mim, é a melhor do disco.

 

Sky Full of Stars novamente quebra minha vontade de escutar o restante do disco, algo parecido com o que aconteceu ao escutar Magic. O Fade In/Fade Out de frequências do piano apenas não me convenceu. Outra canção repetitiva e de fins comerciais, com um refrão igualmente previsível, com uma quebra eletrônica, tão típica da maioria das canções hoje nas rádios.

 

"O" e sua reprise nos trazem, em seguida, um riff de piano belíssimo que não se ouvia há muito tempo nos discos do Coldplay. A melodia suave o acompanha perfeitamente. A alma do Coldplay pode ser sentida em "O", novamente me fazendo pensar que, apesar das frustrações, valeu a pena escutar esse disco.

 

As duas últimas canções são, essencialmente, bem estranhas se considerarmos os últimos trabalhos da banda. Ghost Story, por exemplo, me lembra algo que o Radiohead fizera nos seus primeiros albuns. Uma melodia um tanto incomum e bem interessante carrega a música, finalizando o disco de uma forma bem inesperada, já que a canção tem uma energia bem mais positiva e animada que o restante do disco. Talvez essa tenha sido a conclusão do disco: "Eu superei".

 

Confesso que eu esperava muito mais do Ghost Stories e que eu senti falta de um hino digno de um trabalho do Coldplay. Senti falta das letras suaves e introspectivas de Chris Martin. Senti falta de um som mais natural e menos eletrônico. Mas nós estamos sempre a mudar, e foi isso que o Coldplay fizera.

 

Uma abordagem diferente da produção musical trouxe a esse disco um aspecto bem  diferente para a banda. Eu não gostei, mas essa é só minha opinião. Não precisava de um disco excessivamente triste na minha vida no momento, então passo adiante minha análise. Espero que ouçam Ghost Stories com carinho e tirem suas próprias conclusões. Coldplay ainda é minha banda favorita, mas devo confessar, não faço questão de continuar ouvindo esse disco. Minha nota opinativa como vinha fazendo nas últimas resenhas para o Ghost Stories é de 72 de 100. Muito obrigado a todos que lerem esta resenha e continuem visitando o Cartaz Branco para as novidades que virão. Um grande abraço do autor,

 

Mateus Picanco Lima Gomes.

 

 

Escute Midnight:

 

 

Mateus Picanço é resenhista do Cartaz Branco. Tem 18 anos e pretende cursar Engenharia Acústica. É entusiasta da poesia e incipiente cronista. Além de participar de uma banda.

 

Resenha:

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