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Bon Iver, album: Bon Iver (2011). Jagiaguwar Records.
por: Mateus Picanço.
 

Uma imensa gama de sabores, recheado com nuances quase absurdas, de uma audácia admirável, e perspicácia inconfundível. Não cheguei a encontrar palavras melhores que definissem tal disco. Justin Vernon é, em essência, um louco. Um louco que nos deu uma das mais belas obras musicais da século XXI.

Bon Iver, álbum intitulado a partir do próprio nome da banda, é fatigado com detalhes preciosos. De uma aderência realmente corrosiva à mente de um desavisado. Acontecera comigo mesmo quando me deparei com esta canção chamada Perth. A bela introdução de guitarra me chamou a atenção e logo percebi que a música da banda iria mais além.  

   

Foi com Minnesota, WI que o álbum me conquistou. Tamanha loucura que são as nuances desta faixa não poderia ser planejada. A musica simplesmente flui com o conteúdo da letra, enigmática e bem escrita, provando a erudição de Vernon. Genial a entrada do baixo distorcido quebrando o ritmo por completo. Mais interessante ainda, as harmonias de vocais que parecem gritar uma realidade de abandono, que e a temática central da canção: Hmongs, etnia asiática tipicamente encontrada em grande quantidade no estados de Wisconsin e Minnesota,  os quais tiveram de abandonar suas pátrias devido a guerra que se alastrava no Vietnã.

 

O álbum já se reconfigura com a próxima faixa, chamada Holocene. Tipicamente melancólica e auto-reflexiva, ela traz um arranjo simples porem carregado de angustia. Apesar de não ser uma das minhas favoritas, e bastante reconhecível a sua capacidade de tocar as pessoas.  As faixas seguintes, Towers e Michicant exploram bastante as guitarras, em arranjos mais simples e sinceros, principalmente em Michicant ,a que considero a faixa mais bonita do disco.   

  

Hinnom, TX por sua vez é marcada pela experimentação e obliqua noção de musicalidade de Vernon. Wash então é alcançada e a bela melodia de piano se destaca, diferentemente de Hinnom, TX, que ao meu ver, não oferece tanto.

 

As três ultimas faixas do disco são decisivas. Calgary,  a de maior carga emocional e instrumental é característica muitíssimo importante da banda, que por si só é carregada, com cerca de 11 músicos, tocando uma grande variedade de instrumentos.

 

Lisbon serve somente de transição para a faixa que considero a grande pena de todo o álbum. Uma canção enjoativa e “retro”, gritantemente diferente do padrão apresentado pelas musicas anteriores. Ao menos, Vernon foi inteligente ao sugerir a faixa como ultima do disco, sua estrutura geral não é prejudicada.

 

Quanto a questão técnica, o disco é impecável. Já com um porte de estúdio profissional, ele difere bastante da simplicidade do álbum anterior, For Emma, Forever Ago. E daí provém o que considero o maior pecado de Vernon neste disco: é denso, carregado demais. Um artista indie não procura exatamente viabilidade sonora, porem este pecou quanto a comercialidade do disco.

 

Não culpo Vernon. A característica de suas letras faz jus a um arranjo carregado, até mesmo exagerado. No geral, é uma belíssima obra, muito diferente de qualquer coisa que se encontra pelo meio musical hoje em dia. Aos entusiastas do experimentalismo, e até mesmo os que se encontram cansados da sonoridade convencional da música pop, Bon Iver é indubitavelmente recomendável.

 

 

Mateus Picanço,

Cronista e Compositor.

Resenha:

Revisado por: Ayla Viana

Mateus Picanço é resenhista do Cartaz Branco. Tem 17 anos e pretende cursar Engenharia Acústica. É entusiasta da poesia e incipiente cronista. Além de participar de uma banda.

 

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