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Minta pra mim falando que não vai ir embora. Mesmo que seja para que em um segundo eu possa acreditar. Mesmo que seja pr'eu me embebedar com as palavras que quero ouvir. Não me importo com o que possa acontecer, mas por favor, minta pra mim falando que não vai embora.



Não sei quantas perdas a gente tem que sofrer ao longo de toda uma vida, não sei até onde a gente pode aguentar. Não quero chorar a sua ida, não quero querer que você não se vá. Pois você irá embora - é inevitável, ninguém conseguiu se fazer eterno. Mas se fosse possível, você se faria por mim? Deixaria que eu partisse antes de ti? Deixaria que a dor da partida, a dor da saudade e a dor do esquecimento tomasse o teu coração, não o meu?



Eu sei que o faria. Mas será que também você pode mentir pra mim dizendo que não vai ir embora? Isso poderia apaziguar meu medo enquanto a dor não viesse.


Quero n
ão pensar nessas coisas, quero não precisar que minta para mim. Quero colo e quero as histórias que você contava pra gente dormir. Quero não querer que você minta para mim, mas preciso saber: você vai ter que ir embora?

Should You

Letícia Lopes - 16 anos, escritora

16 anos, prestes a concluir o Ensino Médio.  Aspirante a muita coisa. Simpatiza com a literatura, psicologia, fotografia e qualquer meia coisa que se relacione ao Chico Buarque. Vai ser o que tiver que ser.



Blog: http://takenforafood.blogspot.com.br

Contato: lsdylan@hotmail.com

Um certo pesar lhe caía sob a cabeça. Pagar a fiança do irmão mais velho, suas contas e dívidas, respectivamente, não era algo que amenizava sua situação. Vivia imerso num apartamento impróprio até para ratos; sua sujeira refletia em algo bem mais complexo que seu chão.


Estava postado em uma poltrona velha, devorando outro livro: pensava que ler poderia aumentar seu índice de cultura, fazendo com que não se tornasse tão dispensável assim. Estava errado. Passar madrugadas tentando instabilizar sua autoestima não fazia com que isso acontecesse realmente.


Queria um irmão livre, uma conta que saísse do vermelho, e uma casa não tão promíscua na pior zona da cidade. Queria uma reviravolta em sua vida, e estava cansado de tanto esperar.


No ápice dessas conclusões, ouviu o telefone tocar. Era o advogado de seu irmão, contando que uma fiança conseguira arranjar para ele. Finalmente começou a acreditar que “sua reviravolta”, dessa vez virou para o lado certo.


Estava em ecstasy com a notícia. Passara, nas últimas horas, a ouvir alguém bater na porta e a felicidade entrar com toda folia. E, de fato, a porta bateu, e alguém entrou com toda folia casa adentro. Pena que era seu irmão, seguido de cinco traficantes. Ele acabara de roubar outro banco, estava em meio a uma segunda perseguição.

A Porta

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