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A poesia sempre andou de mãos dadas com a música. No caso de Rafael, que é músico e também escritor, essa realidade apenas se confirmou. Ele se descreveu tão bem que ficou difícil alterar alguma coisa. Então, com vocês, Rafael Lima:

"Leitura e música são minhas principais atividades. Toco violão e canto pra passar o tempo e, pra ser honesto, escrevo somente quando minha paciência anda de mãos dadas com a inspiração. E falando dessa outra, ela vem de fontes distintas: De Tolkien a Huxley, do épico ao real, do utópico, do real e do absurdo. As fontes também são musicais. Sou doido pelo country/blues/gospel do Johnny Cash, Pink Floyd e outros. Tenho 17 anos, estou terminando o ensino médio e quero cursar Ciências Sociais." 

 

Blog: http://baraodearesta.blogspot.com.br/



 

Leia abaixo dois textos dele:

Rafael Lima

 O início da obra

 

       Era noite de natal. João (acho que era esse seu nome) subiu até o quarto a passo apertado, dirigindo-se até a escrivaninha. Sentou-se na cadeira, pegou a caneta e encarou piamente a folha de papel. A ideia de experimentar escrever seu primeiro poema naquele dia que ele rotulava carinhosamente como o "Dia do Nada", trouxe a ele uma curiosa sensação que mais tarde descreveria como "contida euforia". E então, com uma martelada de tinta na primeira linha, foi dado início a primeira grande obra artístico na mente de João. Mas de repente, o alicerce desabou. Tudo desabou.

     Oh, como era forte a dor. Como se a tivesse encarada pela primeira vez (talvez  tenha sido). Um turbilhão de sentimentos o atingiu como um animal sendo abatido. Lágrimas de súbita loucura incessantes cobriam sua visão, pois naquele poema quis dizer tudo, mas não sabia falar. Forte é a dor do homem que encara seus sentimentos pela primeira vez.

        "Recomponha-se", disse ele em voz alta. "Tenha ânimo. Você consegue.". E então uma voz - não sabia de onde; se vinha dele ou de trás dele - disse: "O que dirás, tolo? E pra quem dirás? Pro mundo? Para si? O que sabe sobre si?". Ah, aquelas palavras quebraram as pernas do nosso protagonista. Mas ele, orgulhoso, tentou ignorar os questionamentos e continuou seu raciocínio de forma forçadamente lúcida. Quem olhasse, iria pensar que ele fazia aquilo há anos. "Talvez sobre o acidente. Não. Não sobre o acidente". "Talvez sobre o 'Dia do Ócio'? Não! Já tem natal pra todo lado. Pra quê tê-lo também no meu poema? Talvez..." 

          E então aconteceu. Ficou pasmo diante da janela e de seus pensamentos que, diz ele, pela primeira vez pareceram surpreendê-lo. Ele então escreveu. Não sobre o mundo ou o universo. Escreveu... Sobre ela. Estavam todos lá embaixo no salão, esperando. Mas ela não estava lá. Ela também estava o esperando, mas não estava lá. 

         Depois de terminar sua obra, sorriu de satisfação, dobrou o papel e guardou-o na gaveta. Um dia, face a face, encontraria com ela, e suas palavras seriam sua segunda dor. Mas o poema ele guardou. Guardou com tudo que sentia e idolatrava. Tudo que acreditava, tudo que idealizava nela. Na gaveta, entre toda a poeira e bagunça, guardou tudo sobre ela.

 

Revisado por: Ayla Viana

A Estrada

 

Uma estrada, quase solitária,
Pertubada por viajantes
Sofre dores, como de parto
Estava farta de todo fardo
Carregado em seus semblantes
 
Ela, que carregou seu filho nos braços
E colocou-o diante do medo.
Fisgou ele a velhice cedo
E abandonou todos os laços.
 
Ele, que por náilon suave lhe foi dada vida e passo
Seu coração foi forjado por ferro e aço.
Sua mente, por pena e grafite foi feita
Sob a lua e o sol o menino se deita.
 
Mãe é essa: que se faz jornada
de prole peregrina que foi abandonada;
de origem infame e natureza ingrata;
de nascimento sacro e morte sem data.
 
Mãe de ferro, de mato, de barro e de ondas
Que sua fonte a todos anuncia à trombeta
Que liberta o cativo do espelho de sombras
E cria tanto cavaleiro quanto mago e poeta
 
Então vem o consolo do vento, que consola a Mãe em sua dor
Lembra-lhe que do amor seu filho profeta se tornou
“Sua alma em fulgor ainda bebe da tua fonte
Pois os pés dele à Ti estão ligados
 Mesmo eles o levando ao infinito horizonte distante.”

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